sábado, 26 de janeiro de 2013

Pra não dizer que não falei das flores




A flor

O fruto à mão
Da boca ao chão
Semente agora despida
Antes em cachos, a pouco colhida.
Coberta estava do suco das uvas
Queria ser fermentada
Agora sozinha aguardava
O sonhado milagre da chuva.

Do chão a secura
E a vida se torna mais dura.
Pisada por muitos, esquecida por nós
Mas ouvindo de Deus a voz
Teima em viver e ser uma flor
Esperava encontrar o amor
Em seu lugar só espinhos,
Sabe que aguarda a dor.

A chuva encharca o chão
De repente surge um botão
Aguilhão de um lado, do outro espinho
A mais forte dor é estar sozinho
Como fazer diferença se não desabrolhar
Enquanto outros preferem calar
Mas a beleza da flor será um dia descrita
Com doces palavras e boa tinta.

Uma mulher passa olhando o chão
E mesmo ferindo a mão
Recolhe a flor e a leva ao coração.
Ouviram-se aplausos, deserto em festa
Mas que alegria era esta?
Eram as coisas voltando ao seu normal
A feiura dos cactos dominando a paisagem, afinal.

Mas o que o espinho não sabia
Aquela semente que nada valia
Agora em flor beleza irradia.
Enquanto suas irmãs viraram mosto
Ela aformoseia um rosto
E um sorriso, antes guardado, agora exposto.

Poetas dizem que a flor vence o canhão
Prefiro acreditar que amolece o coração
De pedra, diamante ou de safira
Mesmo que ao final do dia
Seque, murche e ninguém lembre jamais
Que por um breve momento existira.

Outros dizem que a flor silencia baionetas
Prefiro acreditar que muda carrancas e caretas
Para rostos amigos, de afáveis irmãos
Como diz a letra de uma velha canção
“Somos todos iguais, braços dados ou não”.

O que essa flor me fez perceber
Enquanto alguns pagam para ver
Outros param para ler
Importante mesmo é você crer
Se uma flor solitária incomoda o espinheiro
Imagine várias, o que farão por inteiro.



Leia a Bíblia. Pense. Viva.
Fredson Andrade