terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Quem Tem Medo de Assembleia?



Introdução 

Esse é um tema amplo e que eu considero apaixonante. O motivo desse interesse é o mesmo que levou à Reforma Protestante do século  XVI: a liberdade do homem dizer o que pensa e de guiar-se somente pela Palavra de Deus, independente de hierarquia humana. Sola scriptura, diziam os reformadores. Lamento concluir, mas em nossos dias uma reforma parecida se faz necessária dentro de algumas igrejas, mas isso não acontecerá sem que, antes, reformemos o nosso coração e a nossa mente. 

Já ouvi pastores dizerem que o lugar mais perigoso para um não-convertido estar é dentro de uma igreja evangélica. Eles só não dizem que para o crente também o é. Não falo isso me referindo a todos os crentes, mas a uma categoria particular de verdadeiros convertidos que ainda choram diante dos pecados de seus líderes e das muitas dores que estes causam em suas igrejas, preferindo não fechar os olhos nem calar a boca quanto a isso. Também não me refiro a todas as igrejas, mas apenas àquelas administradas por líderes autoritários e arrogantes, que medem o “sucesso” de seus ministérios com números, estatísticas e metas, que não suportam críticas e se cercam de bajuladores encarregados de constantemente lhe massagearem o ego. 

Alguém tem que falar sobre esse assunto de forma aberta e clara. Peço a Deus para que eu não seja injusto em minhas colocações, nem que as minhas palavras sejam excessivamente pesadas, porque eu também tenho emoções, e pretendo retê-las para que o tema seja tratado de forma mais imparcial possível, enquanto minhas experiências pessoais insistem em marcar o seu lugar. 

O tema é vasto e há muito a ser escrito. Por isso o dividi em três partes. Na primeira, cujo título é Identificando os Medrosos, desafio o leitor a fazer um check-in de si mesmo e verificar se ele faz parte do rol daqueles que têm medo de Assembleia. Advirto que esse check-in é indicado apenas para que você aplique em si mesmo, apesar de reconhecer ser inevitável que você diagnostique outras pessoas pelo mesmo método. Neste último caso, os resultados podem não ser conclusivos. 

Numa segunda parte, pretendo colocar o leitor a par das estratégias utilizadas pelos líderes autoritários com o fim de implantar o terror em suas ovelhas e diminuírem o valor e a dignidade de uma Assembleia de Igreja Local. Acompanharemos todos os passos, do mais simples, onde ninguém percebe maldade, aos mais ousados, onde a vileza salta aos olhos de todos. 

Na terceira e última parte do tema, pretendo apresentar soluções para igrejas que estão indo a passos largos na direção do rebaixamento de suas Assembleias. Para algumas igrejas ainda há volta. Contudo, a minha preocupação maior será com os seus membros e procurarei mostrar uma forma de como recuperarem a dignidade perdida. 

Com a permissão de Deus, segue a primeira parte. 


Parte I - Identificando os medrosos 

“Em Deus tenho posto a minha confiança;
não temerei o que me possa fazer o homem."
(Sl. 56:11)

Todos nós tememos algo. Medo do escuro, de engordar, do dentista, da solidão, da doença, da morte, do homem mau. O medo abrange as mais diversas coisas e a sua intensidade vai depender do histórico de vida de cada indivíduo, podendo variar de uma mera ansiedade, que é um temor antecipado de se encontrar em uma situação ou com o objeto que lhe causa medo, a um pavor, que é o grau máximo do medo onde o funcionamento do corpo humano é abalado. Medo é a emoção que se caracteriza por uma angustiosa perturbação diante de uma situação de perigo ou ameaça, seja real ou imaginária, forçando-nos a uma adaptação rápida e eficaz com fins de sobrevivência, o instinto mais básico de todo ser. 

Instituições humanas também têm se valido do medo para sobreviverem. O que seria das empresas se os seus funcionários não tivessem medo do desemprego? O que seria do campeonato de futebol se os jogadores não tivessem medo de serem expulsos da partida? A punição que inflige o medo é algo salutar dentro de qualquer instituição quando aplicada dentro de parâmetro que respeitem a dignidade da pessoa humana. O próprio Estado se utiliza da sanção para conduzir seus cidadãos dentro de padrões de comportamento socialmente aceitos. Contudo, a dosimetria, o método, os meios e os fins devem ser observados e são balizas que não podem ser ignoradas jamais, sob pena de se instalar uma ditadura do medo, transformando aquilo que seria louvável e bom em algo intolerável e perverso, transformando aquilo que beneficiaria a muitos em algo que beneficia e protege os interesses de apenas um grupo, transformando aqueles que deveriam ser juízes das causas mais nobres em vis carrascos nos assuntos mais comezinhos, transformando colaboradores ativos e agentes de propagação de reinos em meros lacaios com mentalidade de súditos. 

Líderes religiosos também têm se valido do método mundano da imposição do medo em nome da sobrevivência. O detalhe diferenciador é que eles buscam a sobrevivência de si mesmos; a instituição e os membros vêm em último lugar, quando há algum lugar para estes. Mesmo que essa ordem fosse alterada, digamos, instituição-líder-membros ou membros-instituição-líder, nada justificaria impor o terror a uma congregação inteira. Atitude vil não se justifica por serem os objetivos nobres, assim como as trevas não se aliam com a luz. Contudo, para que tais líderes assegurem sua posição de donos do rebanho, eles precisam antes derrubar todos os obstáculos que o próprio Senhor Deus colocou em seus caminhos. São barreiras erguidas pelo Deus Triuno em defesa da Sua propriedade santa. Temo e tremo diante da seriedade de tal assunto porque estou escrevendo sobre aquilo que pertence ao meu Deus, aquilo pelo qual Ele enviou o Seu Filho para a morte: a Sua Igreja e Noiva. E se você, caro leitor, não estiver imbuído desse mesmo sentimento, peço encarecidamente que pare por aqui e faça a leitura do restante desse texto em outro momento. É passada a hora de deixarmos de sermos levianos com os assuntos do Rei. No entanto, se você estiver certo de que deve prosseguir, te convido aos próximos parágrafos. 

Por uma questão de padronização de termos, faço uma observação quanto à grafia. Quando eu citar a palavra Igreja com “I” estarei me referindo ao Corpo de Cristo formado pela reunião de todos os crentes remidos durante a dispensação da graça. Por outro lado, quando grafar igreja com “i” estarei me referindo à instituição igreja local composta de crentes reunidos em determinado lugar com o objetivo de prestar culto e com uma liderança humana, falível e pecadora. Tentarei seguir essa regra. 

Que barreiras Deus colocou para defender sua Igreja contra os maus líderes? 

Para chegar a essa resposta, antes se faz necessário entender o que alguns teólogos denominam de Pirâmide de Autoridade. Pirâmide de Autoridade é o escalonamento vertical e hierarquizado de todos os membros, ofícios e autoridades de uma igreja local autônoma. Observe a figura abaixo retirada do site de uma igreja conservadora:


                                     http://www.cristoevida.com/ibfcv.asp?url=igrejaOrganizacao


Por essa figura se observa que Cristo é o Cabeça e o fundamento da igreja e da Igreja. Logo abaixo está o ensinamento dos apóstolos e profetas que forma toda a base doutrinária e arcabouço teológico a ser defendido e ensinado. Seguindo, veremos a Assembleia da Igreja Local, órgão de cúpula para tomada de decisões e prestação de contas de todos, repito, todos os membros – liderança também faz parte da membresia pelo que sei. Abaixo da Assembleia estão os evangelistas e patores-mestres, responsáveis pela direção e cuidado do rebanho. Seguindo estão os diáconos e, por fim, a membresia. Os que estão acima exercem liderança sobre os que estão abaixo. 

E onde estão as tais barreiras que Deus colocou para impedir o avanço dos maus líderes? Observe novamente a figura acima e responda: quantos degraus faltam para esse pastor chegar ao topo? Esses degraus são os obstáculos que ainda restam. Destruindo a Assembleia Geral, nenhum obstáculo haverá mais entre este líder e a sã doutrina, passando ele a ditar as regras e a ter ampla liberdade para desvirtuar a Palavra de Deus, corromper a mensagem da salvação e os bons costumes, e utilizar o Evangelho em defesa de seus próprios interesses. Por fim, quando todas estas coisas acontecerem e essa pessoa tiver submetido a si tudo e todos, destronará o próprio Senhor Jesus Cristo dos corações de suas ovelhas e do comando da igreja, e tomará o seu lugar, assentando-se no topo da pirâmide. Algo parecido aconteceu com Lúcifer. “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is. 14:12-13). Que Deus poupe a nós e nossas famílias desse dia. 

Ainda assim, para que esse triste cenário se concretize, é preciso antes que o último obstáculo humano estabelecido por Deus seja suplantado – a Assembleia de sua igreja. Por isso a sua atitude como membro durante as Assembleias é que dirá a direção e o ritmo com que essas coisas estarão acontecendo. O seu nível de comprometimento, de amor e zelo pela Igreja devem ser demonstrados inclusive nesse momento. Por isso, para o mau pastor é tão importante estabelecer uma atmosfera de medo na Assembleia, impedindo os crentes de se manifestarem livremente e dizerem o que pensam. Mas, como saber se você tem ou não medo de Assembleia? Resolvi te ajudar. Segue abaixo um questionário com perguntas que você deverá responder SIM ou NÃO. Leia e responda:


      1. Prefiro ficar em casa a ter que ir para uma Assembleia, e quando vou, desejo que tudo acabe
          logo. 

      2. Ao ouvir uma proposta eu torço para que não haja nenhum questionamento. 

      3. Acho que a minha opinião não tem o poder de influenciar o rumo das coisas. 

      4. Eu nunca fiz uma pergunta em Assembleia. 

      5. Já perguntei alguma vez, mas acho que teria sido melhor ter ficado calado. 

      6. Nunca expus de forma clara e cabal o que realmente penso sobre o assunto. 

      7. Prefiro me abster a ter que votar contra alguma proposta. 

      8. Prefiro que outros tomem a decisão por mim, afinal, quem sou eu para me opor a tantos. 

      9. Fulano é mais espiritual e sábio do que eu, portanto, se ele concordou, eu também concordo. 

      10. Sempre aprovo todas as propostas, mas quando termina a Assembleia murmuro pelos
            corredores da igreja e nas casas dos irmãos da decisão que eu mesmo tomei. 

      11. Tenho raiva daqueles que perguntam demais. 

      12. Tenho dó daqueles que um dia ousaram discordar e sofreram por isso. 

      13. Tenho medo do pastor de minha igreja e da maneira como ele franze a testa diante
            das perguntas. Lá vem pedra!

Agora, amigo leitor, é só você somar todas aquelas que você respondeu SIM. Se você obteve um resultado diferente de ZERO, pode concluir: você tem medo de Assembleia. Não pense que eu o critico por isso. Eu mesmo presenciei coisas indizíveis durante Assembleias a ponto de ver esposas, por medo, puxarem seus maridos pela manga da blusa forçando-os a sentarem e permanecerem calados. Medo! Emoção que nos faz agirmos de forma tola, às vezes. 

Defendo o respeito aos líderes das igrejas, mesmo os autoritários, mas defendo também que os seus pecados devem ser expostos e tais pessoas confrontadas com muito amor, doutrina e oração; o mesmo tratamento dado a qualquer pecador. Eles precisam também ser avaliados quanto ao medo de Assembleia. Para isso, há um método bastante simples que dispensa questionários e somatórios. Basta observar as atitudes que ele toma durante a Assembleia quando é arguido, tem suas pretensões ameaçadas e desejos contrariados. Pretendo tratar disso no próximo post. Por enquanto, basta saber que quando isso acontece, a reação do mau pastor é sempre desproporcional, irracional, colérica e nunca bíblica. Comporta-se como se estivesse em um ringue, batendo forte em homens feitos, mulheres e crianças. Não há limites para ele, desde que consiga levar o mais rápido possível seu “adversário” à lona. A diferença é que, enquanto “luta”, ele mesmo dita as regras, controla o relógio, bate o gongo, pontua os golpes, conta até dez e anuncia o vencedor. E quando ele termina, com as mãos ainda sujas de sangue, veste o jaleco branco e se impõe como o médico que tratará das feridas que ele mesmo causou. A sua vitória é certa e a torcida, grande. "Foi por causa dos pecados dos profetas, das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue dos justos no meio dela." (Lamentações 4:13).

Para terminar, lembro-me de uma cena clássica de Hollywood. No filme Os Intocáveis (1987), dirigido por Brian De Palma, Al Capone (interpretado por Robert De Niro) está numa reunião com seus iguais. Ele fala da necessidade de um time estar bem entrosado, todos desempenhando muito bem o seu papel, com desenvoltura, agilidade e, o mais importante, sem embaraços. Um dos membros não estava tão bem alinhado com o grupo como os demais, causando prejuízos para a organização. Foi quando o chefe resolveu dar uma aula sobre unidade - ou terá sido unanimidade?



Capone, segurando um maciço taco de baseball, literalmente rachou o crânio daquele. O pânico toma conta de todos os presentes. Nenhuma palavra dita em defesa do pobre homem. Todos preocupados com suas próprias cabeças. Uma atitude, várias lições. A principal: vale tudo para sobreviver. Afinal, Al Capone também tinha medo de Assembleia.


Leia a Bíblia. Pense. Viva.
Fredson Andrade


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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Facebook, o bode expiatório da vez




“Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto.” (Lv. 16:22)


Esse é o segundo post que escrevo sobre o assunto. No primeiro, chamei atenção para a atitude correta do crente em relação às redes sociais e demonstrei que a responsabilidade sobre o que se faz nos sites de relacionamento não é diferente de tudo o mais que fazemos na nossa caminhada cristã. Comer, beber, dormir são atividades tão essenciais na vida de qualquer um, como o se relacionar com outras pessoas. Peca quem dorme demais e se esquece das suas obrigações, assim também peca o glutão e o beberrão. E o que diremos às pessoas que assim procedem? Com toda certeza não vamos aconselhá-las a pararem de dormir, comer ou beber. O que diremos a um casal de namorados lascivos? Com certeza não diremos que o problema está no gosto pelo sexo oposto. O que você faz no seu casamento, no seu namoro, nas suas amizades, no seu trabalho, na sua escola, no seu computador é mero reflexo do nível de comunhão que você tem com Deus. Santifique a tua vida e verá que tudo que você fizer honrará ao Senhor. “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (I Co. 10:31). Isso já foi tratado em post anterior. Se você não o leu, sugiro que o faça. 

Neste post, dou um enfoque diferente sobre esse tema. Pretendo lançar luzes em uma área que quase nunca se aponta a Palavra de Deus para sua direção: os pecados e erros administrativos de uma congregação e a tentativa de expiá-los apresentando soluções pragmáticas. Para alguns, é cômodo que continue assim, enquanto a maioria sofre com as consequências.

A tentativa de se retirar a culpa sobre si, e colocá-la sobre os outros é tão velho quanto o próprio pecado. Em Gênesis vemos Adão tentando se eximir da culpa colocando-a em Deus e em sua mulher, e Eva fazendo o mesmo culpando a Serpente que é Satanás (Gn. 3:8-13).

Atitudes assim também fazem parte do dia a dia de nossas igrejas. Lamentável ver pastores em seus púlpitos pregarem lindos sermões sobre a necessidade de se humilhar, reconhecer culpa, fraquezas e pedir perdão sempre, e nunca vê-los fazer isso; nunca. Muitos anos de ministério a frente de uma mesma igreja e nenhum pedido de perdão ao longo dos anos. Em vez disso, as atenções sempre estão voltadas para fora do seu ministério. Uma vez, ouvi um deles repreendendo os membros de sua igreja por estarem assistindo pregações de outros pastores, de outras igrejas, pela internet, o que estava causando questionamentos do seu ministério, tirando a paz de sua igreja. A causa dos problemas de dentro está lá fora, sempre lá fora. Não é à toa que não me espanta o fato de que, com a mesma rapidez com que surgem os escândalos dentro das igrejas, surgem também os bodes expiatórios.



Desde a época do Antigo Testamento, o ritual mais importante para o povo judeu é o dia do Yon Kippur (dia do perdão), onde dois bodes eram preparados e levados ao Templo perante o Senhor e, mediante sorteio, um seria queimado sobre o altar do sacrifício e o outro se tornaria o bode emissário (expiatório) que seria deixado com vida e enviado para o deserto. Encontramos esse preceito em Levítico 16:7-8, 21-22: “Também tomará ambos os bodes, e os porá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação. E Arão lançará sortes sobre os dois bodes; uma pelo SENHOR, e a outra pelo bode emissário... E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto”. O foco da cerimônia era o arrependimento do homem e a misericórdia de Deus em perdoá-lo. Depois diz em Levítico 23:29 “Porque toda a alma, que naquele mesmo dia se não afligir, será extirpada do seu povo.” A palavra afligir significa humilhar. Por isso o perdão deve ser precedido de aflição, humilhação. E só haverá humilhação com reconhecimento de culpa. Esse reconhecimento de culpa deve ser completo, cabal, ou seja, deve abranger todos os envolvidos na questão. Se o teu pecado não ofendeu nenhuma outra pessoa, quer crente ou descrente, humilha-te diante de Deus e pede perdão a Ele somente. Mas, se o teu pecado é público, neste caso, a humilhação e o perdão devem também ser públicos. “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós... Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (I Jo. 1:8,10). Quanto maior a posição que se exerce na liderança de uma igreja, maior será a necessidade de se observar esse princípio.

A disposição de reconhecer pecados e erros administrativos dentro das igrejas é algo que está ficando cada vez mais raro. Certa vez, numa longa conversa com um pastor, expus a ele pontos que precisavam ser corrigidos em seu ministério e, com a intenção de ajudá-lo, dei alguns conselhos. Ele, com muito desdém, escreveu tudo que eu dizia numa agenda. Quando conclui, olhou para os diáconos que estavam a sua volta, fechou a agenda, empurrou-a para longe de si e começou a sua defesa com a seguinte pergunta: “Onde você estava no dia do meu aniversário?” Meu queixo caiu até a altura dos joelhos! Custei a entender onde ele queria chegar com essa pergunta, mas depois de mais duas ou três, compreendi: ele estava reivindicando honras para si, e aquela minha atitude de procurá-lo, questioná-lo, o desonrava tanto quanto a ausência de alguém a sua festa de aniversário (nada mais infantil). No meio da conversa, muito nervoso, por uma das janelas de seu gabinete, apontou para o grande portão que dava para a rua e pediu para eu pegar minha família e procurar outra igreja. Pessoas assim, nunca estão dispostas a olharem para dentro. “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Mc. 7:21-23).

Igrejas com boas Confissões de Fé e sólida base doutrinária naufragam tristemente nesse aspecto. Erguem fortes muros em defesa do evangelho e em suas igrejas colocam atalaias em altas torres e arqueiros em posição de guarda sobre as muralhas. Transformam seus membros num verdadeiro exército bem armado e combativo, pronto para rechaçar o inimigo quando ele bater às portas com suas hostes. Esquecem que fortalezas podem ser tomadas sem um único tiro de arco. Basta o inimigo montar cerco e esperar que os próprios moradores destruam a si mesmos. Esse é um dos modos que Deus tem utilizado para disciplinar Seu povo - “E sitiar-te-á em todas as tuas portas, até que venham a cair os teus altos e fortes muros, em que confiavas em toda a tua terra; e te sitiará em todas as tuas portas, em toda a tua terra que te tem dado o Senhor teu Deus. E comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas, que te der o Senhor teu Deus, no cerco e no aperto com que os teus inimigos te apertarão.” (Dt. 28:52,53). Com a Massada não foi diferente. Sabendo dessa estratégia, as tropas romanas montaram cerco sobre Massada, um palácio construído por Herodes, o Grande, símbolo do seu orgulho e grandeza, tido por alguns como inexpugnável, cujo fim foi o suicídio em massa de seus moradores. A palavra disciplina transmite a ideia de consequência; consequência de uma atitude anterior reprovável aos olhos de Deus. E essa atitude digna de repreensão é a mesma desde sempre e nunca mudará: “... porquanto não destes ouvidos à voz do Senhor teu Deus.” (Dt. 28:62, 2ª parte). De fora vêm as consequências, mas dentro está o mal.

Fico pensando na ira que levou Jesus a expulsar os mercadores do Templo de Jerusalém e penso que o que falta aos membros de hoje é um pouco dessa ira e zelo santos pelas coisas de Deus. Combater os erros de dentro de sua igreja não é, e nunca foi, uma tarefa fácil, assim como não foi para os profetas levantados por Deus para repreender a nação de Israel nos dias que antecederam ao juízo. Não há honra, nem glória, nem louros para os que se encorajam nessa missão. Esse nunca será bem quisto entre os seus irmãos e sempre terá consigo, à espreita, pessoas esperando que seus pés resvalem. “E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorou. (Jo. 2:15-17).

Causa-me imensa tristeza e indignação (por que não?), o fato de pastores darem ouvidos a pesquisas realizadas na Universidade de Chicago, distante mais de 7.000 Km de suas igrejas, e acharem o resultado muito interessante, divulgando isso em seus informativos, enquanto se recusam a realizar pesquisas de opinião no seu próprio rebanho; enquanto não querem ouvir os balidos de suas próprias ovelhas. A cada mês, ao celebrarmos a Ceia do Senhor, os membros são convidados a examinarem a si mesmos, perscrutarem seus atos, comparando suas atitudes com a Palavra de Deus, buscando uma correção de vida, mas nunca soube de um pastor que utilizasse sequer o tempo de uma escola dominical para ter uma conversa franca e desarmada com seus membros sobre os rumos que sua igreja está tomando ou o modo de realizarem seus projetos e planos, muito menos perguntarem opiniões sobre seu próprio ministério.

Por isso, quando casos de homossexualismo surgem nas igrejas, a fragilidade de seu ministério e a administração falha não podem ser expostas. Melhor é condenar aquilo que está em voga, na moda, em pleno uso e popularidade, seja o televisor da tua sala, a Malhação e novela das oito na Globo ou o Facebook de Mark Zuckerberg. Para tudo isso, há um grande número de pesquisas para embasar posições que vão de um extremo ao outro; condenando ou apoiando, é só escolher em que lado se quer estar e os interesses que se quer defender e, sem muito esforço, a pesquisa aparecerá para apoiá-lo. Enquanto isso, a opinião dos membros de sua igreja não é citada em nenhuma pesquisa. Diálogo franco e aberto com a membresia, não se quer. Nenhuma crítica equilibrada e embasada é publicada em seus jornaizinhos. O pastor conduz o rebanho e o rebanho segue o pastor. Essa é a ordem natural das coisas, e é assim que deve continuar sendo nas igrejas porque essa é a vontade de Deus. Mas isso não significa que o pastor, se valendo da posição que Deus o colocou, não deva olhar para o rebanho e nem perceber em suas ovelhas sinais de fraqueza, de doenças e de exaustão espiritual. Somente um pastor que ama o rebanho que lhe foi confiado suspende a marcha e cuida das ovelhas cansadas e feridas. Por outro lado, o mau pastor as abandona pelo caminho porque estas, se continuarem, atrapalharão a caminhada para o próximo pasto.

Logo depois da conquista de Jericó, quando Israel tentava tomar a pequena cidade de Ai, o coração do povo se derreteu porque perdera aquela importante batalha e o exército do Senhor bateu em retirada diante de seus inimigos. Josué, então, se prostrou com o seu rosto em terra e diante da arca do Senhor, dirigiu lamentações a Deus e O culpou por ter abandonado o seu povo em batalha. Foi quando Deus mandou Josué se levantar, deixar de reclamar e procurar resolver a questão do pecado que estava escondido dentro do próprio arraial, no interior de suas tendas. “Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças. E disse Josué: Ah! Senhor Deus! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus para nos fazerem perecer? Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão! Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos inimigos! Ouvindo isto, os cananeus, e todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao teu grande nome? Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel pecou, e transgrediram a minha aliança que lhes tinha ordenado, e tomaram do anátema, e furtaram, e mentiram, e debaixo da sua bagagem o puseram. Por isso os filhos de Israel não puderam subsistir perante os seus inimigos; viraram as costas diante dos seus inimigos; porquanto estão amaldiçoados; não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós.” (Js. 7:6-12). 

Quando surgem os escândalos em nossas igrejas, é o momento de procurarmos o anátema escondido em nossas tendas, porque ele está lá, em algum lugar. Não dá para escondê-lo de Deus. Igrejas que jogam sujeira para debaixo do tapete, segredam pecados e os trata de forma diferente a depender de quem os pratica, devem cavar fundo, bem mais fundo ainda, porque o anátema estará lá com certeza. Quem terá coragem e disposição para tanto? É hora das igrejas pararem de criar bodes expiatórios e colocarem neles toda a culpa de seus próprios desmantelos, desmandos, negligências e pecados. Temo não haver tantos bodes assim. 

Leia a Bíblia. Pense. Viva.

Fredson Andrade, 
um servo que ama a Igreja do Senhor Jesus Cristo, 
mas se indigna diante do pecado que a acomete.


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