terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Quem Tem Medo de Assembleia?



Introdução 

Esse é um tema amplo e que eu considero apaixonante. O motivo desse interesse é o mesmo que levou à Reforma Protestante do século  XVI: a liberdade do homem dizer o que pensa e de guiar-se somente pela Palavra de Deus, independente de hierarquia humana. Sola scriptura, diziam os reformadores. Lamento concluir, mas em nossos dias uma reforma parecida se faz necessária dentro de algumas igrejas, mas isso não acontecerá sem que, antes, reformemos o nosso coração e a nossa mente. 

Já ouvi pastores dizerem que o lugar mais perigoso para um não-convertido estar é dentro de uma igreja evangélica. Eles só não dizem que para o crente também o é. Não falo isso me referindo a todos os crentes, mas a uma categoria particular de verdadeiros convertidos que ainda choram diante dos pecados de seus líderes e das muitas dores que estes causam em suas igrejas, preferindo não fechar os olhos nem calar a boca quanto a isso. Também não me refiro a todas as igrejas, mas apenas àquelas administradas por líderes autoritários e arrogantes, que medem o “sucesso” de seus ministérios com números, estatísticas e metas, que não suportam críticas e se cercam de bajuladores encarregados de constantemente lhe massagearem o ego. 

Alguém tem que falar sobre esse assunto de forma aberta e clara. Peço a Deus para que eu não seja injusto em minhas colocações, nem que as minhas palavras sejam excessivamente pesadas, porque eu também tenho emoções, e pretendo retê-las para que o tema seja tratado de forma mais imparcial possível, enquanto minhas experiências pessoais insistem em marcar o seu lugar. 

O tema é vasto e há muito a ser escrito. Por isso o dividi em três partes. Na primeira, cujo título é Identificando os Medrosos, desafio o leitor a fazer um check-in de si mesmo e verificar se ele faz parte do rol daqueles que têm medo de Assembleia. Advirto que esse check-in é indicado apenas para que você aplique em si mesmo, apesar de reconhecer ser inevitável que você diagnostique outras pessoas pelo mesmo método. Neste último caso, os resultados podem não ser conclusivos. 

Numa segunda parte, pretendo colocar o leitor a par das estratégias utilizadas pelos líderes autoritários com o fim de implantar o terror em suas ovelhas e diminuírem o valor e a dignidade de uma Assembleia de Igreja Local. Acompanharemos todos os passos, do mais simples, onde ninguém percebe maldade, aos mais ousados, onde a vileza salta aos olhos de todos. 

Na terceira e última parte do tema, pretendo apresentar soluções para igrejas que estão indo a passos largos na direção do rebaixamento de suas Assembleias. Para algumas igrejas ainda há volta. Contudo, a minha preocupação maior será com os seus membros e procurarei mostrar uma forma de como recuperarem a dignidade perdida. 

Com a permissão de Deus, segue a primeira parte. 


Parte I - Identificando os medrosos 

“Em Deus tenho posto a minha confiança;
não temerei o que me possa fazer o homem."
(Sl. 56:11)

Todos nós tememos algo. Medo do escuro, de engordar, do dentista, da solidão, da doença, da morte, do homem mau. O medo abrange as mais diversas coisas e a sua intensidade vai depender do histórico de vida de cada indivíduo, podendo variar de uma mera ansiedade, que é um temor antecipado de se encontrar em uma situação ou com o objeto que lhe causa medo, a um pavor, que é o grau máximo do medo onde o funcionamento do corpo humano é abalado. Medo é a emoção que se caracteriza por uma angustiosa perturbação diante de uma situação de perigo ou ameaça, seja real ou imaginária, forçando-nos a uma adaptação rápida e eficaz com fins de sobrevivência, o instinto mais básico de todo ser. 

Instituições humanas também têm se valido do medo para sobreviverem. O que seria das empresas se os seus funcionários não tivessem medo do desemprego? O que seria do campeonato de futebol se os jogadores não tivessem medo de serem expulsos da partida? A punição que inflige o medo é algo salutar dentro de qualquer instituição quando aplicada dentro de parâmetro que respeitem a dignidade da pessoa humana. O próprio Estado se utiliza da sanção para conduzir seus cidadãos dentro de padrões de comportamento socialmente aceitos. Contudo, a dosimetria, o método, os meios e os fins devem ser observados e são balizas que não podem ser ignoradas jamais, sob pena de se instalar uma ditadura do medo, transformando aquilo que seria louvável e bom em algo intolerável e perverso, transformando aquilo que beneficiaria a muitos em algo que beneficia e protege os interesses de apenas um grupo, transformando aqueles que deveriam ser juízes das causas mais nobres em vis carrascos nos assuntos mais comezinhos, transformando colaboradores ativos e agentes de propagação de reinos em meros lacaios com mentalidade de súditos. 

Líderes religiosos também têm se valido do método mundano da imposição do medo em nome da sobrevivência. O detalhe diferenciador é que eles buscam a sobrevivência de si mesmos; a instituição e os membros vêm em último lugar, quando há algum lugar para estes. Mesmo que essa ordem fosse alterada, digamos, instituição-líder-membros ou membros-instituição-líder, nada justificaria impor o terror a uma congregação inteira. Atitude vil não se justifica por serem os objetivos nobres, assim como as trevas não se aliam com a luz. Contudo, para que tais líderes assegurem sua posição de donos do rebanho, eles precisam antes derrubar todos os obstáculos que o próprio Senhor Deus colocou em seus caminhos. São barreiras erguidas pelo Deus Triuno em defesa da Sua propriedade santa. Temo e tremo diante da seriedade de tal assunto porque estou escrevendo sobre aquilo que pertence ao meu Deus, aquilo pelo qual Ele enviou o Seu Filho para a morte: a Sua Igreja e Noiva. E se você, caro leitor, não estiver imbuído desse mesmo sentimento, peço encarecidamente que pare por aqui e faça a leitura do restante desse texto em outro momento. É passada a hora de deixarmos de sermos levianos com os assuntos do Rei. No entanto, se você estiver certo de que deve prosseguir, te convido aos próximos parágrafos. 

Por uma questão de padronização de termos, faço uma observação quanto à grafia. Quando eu citar a palavra Igreja com “I” estarei me referindo ao Corpo de Cristo formado pela reunião de todos os crentes remidos durante a dispensação da graça. Por outro lado, quando grafar igreja com “i” estarei me referindo à instituição igreja local composta de crentes reunidos em determinado lugar com o objetivo de prestar culto e com uma liderança humana, falível e pecadora. Tentarei seguir essa regra. 

Que barreiras Deus colocou para defender sua Igreja contra os maus líderes? 

Para chegar a essa resposta, antes se faz necessário entender o que alguns teólogos denominam de Pirâmide de Autoridade. Pirâmide de Autoridade é o escalonamento vertical e hierarquizado de todos os membros, ofícios e autoridades de uma igreja local autônoma. Observe a figura abaixo retirada do site de uma igreja conservadora:


                                     http://www.cristoevida.com/ibfcv.asp?url=igrejaOrganizacao


Por essa figura se observa que Cristo é o Cabeça e o fundamento da igreja e da Igreja. Logo abaixo está o ensinamento dos apóstolos e profetas que forma toda a base doutrinária e arcabouço teológico a ser defendido e ensinado. Seguindo, veremos a Assembleia da Igreja Local, órgão de cúpula para tomada de decisões e prestação de contas de todos, repito, todos os membros – liderança também faz parte da membresia pelo que sei. Abaixo da Assembleia estão os evangelistas e patores-mestres, responsáveis pela direção e cuidado do rebanho. Seguindo estão os diáconos e, por fim, a membresia. Os que estão acima exercem liderança sobre os que estão abaixo. 

E onde estão as tais barreiras que Deus colocou para impedir o avanço dos maus líderes? Observe novamente a figura acima e responda: quantos degraus faltam para esse pastor chegar ao topo? Esses degraus são os obstáculos que ainda restam. Destruindo a Assembleia Geral, nenhum obstáculo haverá mais entre este líder e a sã doutrina, passando ele a ditar as regras e a ter ampla liberdade para desvirtuar a Palavra de Deus, corromper a mensagem da salvação e os bons costumes, e utilizar o Evangelho em defesa de seus próprios interesses. Por fim, quando todas estas coisas acontecerem e essa pessoa tiver submetido a si tudo e todos, destronará o próprio Senhor Jesus Cristo dos corações de suas ovelhas e do comando da igreja, e tomará o seu lugar, assentando-se no topo da pirâmide. Algo parecido aconteceu com Lúcifer. “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is. 14:12-13). Que Deus poupe a nós e nossas famílias desse dia. 

Ainda assim, para que esse triste cenário se concretize, é preciso antes que o último obstáculo humano estabelecido por Deus seja suplantado – a Assembleia de sua igreja. Por isso a sua atitude como membro durante as Assembleias é que dirá a direção e o ritmo com que essas coisas estarão acontecendo. O seu nível de comprometimento, de amor e zelo pela Igreja devem ser demonstrados inclusive nesse momento. Por isso, para o mau pastor é tão importante estabelecer uma atmosfera de medo na Assembleia, impedindo os crentes de se manifestarem livremente e dizerem o que pensam. Mas, como saber se você tem ou não medo de Assembleia? Resolvi te ajudar. Segue abaixo um questionário com perguntas que você deverá responder SIM ou NÃO. Leia e responda:


      1. Prefiro ficar em casa a ter que ir para uma Assembleia, e quando vou, desejo que tudo acabe
          logo. 

      2. Ao ouvir uma proposta eu torço para que não haja nenhum questionamento. 

      3. Acho que a minha opinião não tem o poder de influenciar o rumo das coisas. 

      4. Eu nunca fiz uma pergunta em Assembleia. 

      5. Já perguntei alguma vez, mas acho que teria sido melhor ter ficado calado. 

      6. Nunca expus de forma clara e cabal o que realmente penso sobre o assunto. 

      7. Prefiro me abster a ter que votar contra alguma proposta. 

      8. Prefiro que outros tomem a decisão por mim, afinal, quem sou eu para me opor a tantos. 

      9. Fulano é mais espiritual e sábio do que eu, portanto, se ele concordou, eu também concordo. 

      10. Sempre aprovo todas as propostas, mas quando termina a Assembleia murmuro pelos
            corredores da igreja e nas casas dos irmãos da decisão que eu mesmo tomei. 

      11. Tenho raiva daqueles que perguntam demais. 

      12. Tenho dó daqueles que um dia ousaram discordar e sofreram por isso. 

      13. Tenho medo do pastor de minha igreja e da maneira como ele franze a testa diante
            das perguntas. Lá vem pedra!

Agora, amigo leitor, é só você somar todas aquelas que você respondeu SIM. Se você obteve um resultado diferente de ZERO, pode concluir: você tem medo de Assembleia. Não pense que eu o critico por isso. Eu mesmo presenciei coisas indizíveis durante Assembleias a ponto de ver esposas, por medo, puxarem seus maridos pela manga da blusa forçando-os a sentarem e permanecerem calados. Medo! Emoção que nos faz agirmos de forma tola, às vezes. 

Defendo o respeito aos líderes das igrejas, mesmo os autoritários, mas defendo também que os seus pecados devem ser expostos e tais pessoas confrontadas com muito amor, doutrina e oração; o mesmo tratamento dado a qualquer pecador. Eles precisam também ser avaliados quanto ao medo de Assembleia. Para isso, há um método bastante simples que dispensa questionários e somatórios. Basta observar as atitudes que ele toma durante a Assembleia quando é arguido, tem suas pretensões ameaçadas e desejos contrariados. Pretendo tratar disso no próximo post. Por enquanto, basta saber que quando isso acontece, a reação do mau pastor é sempre desproporcional, irracional, colérica e nunca bíblica. Comporta-se como se estivesse em um ringue, batendo forte em homens feitos, mulheres e crianças. Não há limites para ele, desde que consiga levar o mais rápido possível seu “adversário” à lona. A diferença é que, enquanto “luta”, ele mesmo dita as regras, controla o relógio, bate o gongo, pontua os golpes, conta até dez e anuncia o vencedor. E quando ele termina, com as mãos ainda sujas de sangue, veste o jaleco branco e se impõe como o médico que tratará das feridas que ele mesmo causou. A sua vitória é certa e a torcida, grande. "Foi por causa dos pecados dos profetas, das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue dos justos no meio dela." (Lamentações 4:13).

Para terminar, lembro-me de uma cena clássica de Hollywood. No filme Os Intocáveis (1987), dirigido por Brian De Palma, Al Capone (interpretado por Robert De Niro) está numa reunião com seus iguais. Ele fala da necessidade de um time estar bem entrosado, todos desempenhando muito bem o seu papel, com desenvoltura, agilidade e, o mais importante, sem embaraços. Um dos membros não estava tão bem alinhado com o grupo como os demais, causando prejuízos para a organização. Foi quando o chefe resolveu dar uma aula sobre unidade - ou terá sido unanimidade?



Capone, segurando um maciço taco de baseball, literalmente rachou o crânio daquele. O pânico toma conta de todos os presentes. Nenhuma palavra dita em defesa do pobre homem. Todos preocupados com suas próprias cabeças. Uma atitude, várias lições. A principal: vale tudo para sobreviver. Afinal, Al Capone também tinha medo de Assembleia.


Leia a Bíblia. Pense. Viva.
Fredson Andrade


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